segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Doma Animal... Uma Vergonha que Persiste!





Por: Marcio de Almeida Bueno

No vídeo, o cavalo está caído no chão, com as patas amarradas, e preso a um poste de madeira. Ele se debate, tenta se levantar – sem sucesso. Um gaúcho se aproxima – aquele bem caricato, com roupa típica, bigodão – e, com o chicote, espanca o rosto do cavalo. A cena é brutal. A pessoa que filma dá risadas. Pela voz, percebe-se que é uma mulher.
Trata-se da doma, à moda tradicional do Rio Grande do Sul.
No outro vídeo de faça-você-mesmo, uma égua é presa pela primeira vez pela boca, em um campo cercado. A corda, firme, está em um palanque. O gaúcho dá um susto no animal, que sai correndo, na sua força, sem saber do resultado. A corda estica é dá um tranco daqueles, inesperado. Dor e pavor. O processo se repete, e a égua dispara pelo gramado e então recebe o impacto. Chama-se ‘quebra de queixo’, uma espécie de ritual que diverte certa parcela da população ligada ao RS.
Não, o cavalo não é uma motocicleta que já vem de fábrica com acelerador, freio, marcha-a-ré e embreagem. Esses comandos todos são aprendidos, à custa de dor e, dali pra diante, temor para o resto da vida. Claro que a patricinha-de-feicibúqui que ‘adora cavalos’ e volta e meia vai a um sítio com passeios de montaria, jamais ficou sabendo disso. Não foi aos bastidores ver o choro do palhaço.
Porque estamos acostumados a ver o cavalo já com os arreios, com os apetrechos todos, na boca, cabeça, pescoço, costas, barriga. A propaganda é pesada, e mesmo um cavalinho de pelúcia, fofo, para dar de presente à namorada, já tem um arreio na boca. Reparem.
E há quem se auto-intitule vegano, abolicionista ou defensor dos direitos animais, algo cool, e ao mesmo tempo passeia no lombo de um equino. Falo aqui 1% da dor física – sim, já existe a ‘doma racional’, parente do abate humanitário – e 99% da dor moral, uma vez que aquele quadrúpede vai passar o resto da vida obediente, Joãozinho-do-passo-certo, temeroso da próxima vez em que *aquela* dor vai voltar. A prova é que o ‘freio’ do cavalo-motocicleta é um puxão nas cordas, com mais ou menos força.
Ninguém ousa se mexer na cadeira do dentista, quando “aquela” dor apita, não é mesmo?
E não citarei aqui a parte, digamos, odontológica aplicada ao nosso amigo cavalo, a seco, para fins de encaixe dos acessórios apropriados.
Bem, em 1984 fez muito sucesso uma música gauchesca – sim, há que se ter trilha sonora para o narrado acima – composta por Roberto Ferreira e Mauro Ferreira, chamada ‘Morocha’, cantada por um conjunto intitulado Davi Menezes Junior e Os Incompreendidos.
“Aprendi a domar amanunciando égua / E para as mulher vale as mesmas regras / Animal, te pára, sou lá do rincão / Mulher pra mim é como redomão / Paleador nas patas e pelego na cara”, diz o refrão da música. Traduzindo para a língua falada no Brasil, mais ou menos quer dizer que o autor aprendeu a amansar éguas, e aplica o mesmo procedimento às fêmeas de sua própria espécie, inclusive com uso de uma espécie de algemas e venda para os olhos – que fazem parte da doma equina, conforme o caso.
No vídeo disponível no YouTube, o cantor se apresenta com chicote na mão, e uma elegante senhora da platéia – com uma estola no pescoço equivalente a umas quatro raposas – passa o tempo todo vaiando e xingando os músicos. As demais mulheres focalizadas pela câmera aplaudem ou permanecem comportadas.
Curiosamente, uma música similar foi lançada em resposta à primeira. Intitulada‘Morocha, não’, de Leonardo, um dos mais conhecidos cantores-compositor da música regional do RS, já falecido, respondia às bravatas. “Ouvi um qüera largado, gritando em uma canção / que a regra pra um ser humano é a mesma dos animais / que trata que nem baguais / maneando patas e mão” diz um trecho. Nota-se, claro, o especismo. Não podemos ser ingênuos. O refrão é “morocha não, respeito sim / Mulher é tudo, vida e amor / Quem não gostar que fique assim / Grosso, machista e barranqueador”. Barranquear, traduzindo, é estuprar – isto vai ser contestado, mesmo que mentalmente, por muitos, que não vão se manifestar por vergonha – uma égua fazendo uso de um pequeno declive para que, digamos, os genitais fiquem na mesma altura.
Uma espécie de ritual que diverte certa parcela da população ligada ao RS.

Fonte: Ambiente Legal 

sábado, 22 de julho de 2017

Futuro Incerto...

Alguém assistiu a entrevista com Yuval Noah Harari ontem? Autor dos livros Sapiens, uma Breve História da Humanidade, e Homo Deus? Bem a síntese de tudo o que ele disse é mais ou menos assim: A nossa tecnologia nos subjugará, e em seguida nos substituirá (Inteligência Artificial). Como essa inteligência será criada por nós que hipervalorizamos essa qualidade, a ponto de justificar o massacre de milhões de animais todos os anos devido a sua suposta falta de inteligência, com certeza seremos massacrados por essa mente artificial pelo mesmo motivo, ou seja, porque seremos menos inteligentes que ela... Enfim, temos de repensar nossa relação com a tecnologia tanto quanto com os animais domésticos, de criação e selvagens nesse mundo, pois como salienta o autor se NADA for feito, é isso o que nos espera!

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

As Vítimas do Medo

Um alerta epidemiológico sobre a febre amarela, emitido pelo Centro Estadual de Vigilância em Saúde do Rio Grande do Sul (Cevs/RS) nesta semana, traz recomendações de controle e vacinação aos municípios gaúchos. Isso foi motivado por um surto da doença no Sudeste do Brasil.
A Secretaria Estadual de Saúde lembra que a última vez que a doença foi registrada no Rio Grande do Sul foi entre os anos de 2008 e 2009. Naquela ocasião, nove pessoas morreram em decorrência da doença. Alguns macacos também foram infectados.
“Os macacos se comportam como sentinelas da febre amarela. A doença é transmitida por mosquitos. Mesmo doentes, os macacos não têm a condição de infectar. Apenas os mosquitos têm”, esclarece o veterinário Marcelo Cunha.
Por isso, os macacos são um sinalizador para alerta da doença, e não um transmissor. “Os macacos são afetados antes dos seres humanos. Como os animais estão nas matas, mais expostos aos mosquitos, eles são mais sensíveis. Quando um macaco aparece doente, isso é um sinal que nós humanos estamos expostos também”, explica.


O veterinário Marcelo Cunha trabalha no GramadoZoo, na Serra. Na última semana, dois bugios com ferimentos,  aparentemente causados por humanos, foram encaminhados ao zoológico.
Um dos bugios está em tratamento e outro morreu
ao chegar no zoo (Foto: Reprodução/RBS TV).

Os veterinários e biólogos suspeitam que as agressões tenham sido feitas por moradores de proximidades da região, após uma relação precipitada entre os macacos e a febre amarela.
Conforme o veterinário Marcelo Cunha, “foi uma coincidência muito grande” dois macacos terem sido feridos depois da notícia da morte de dezenas de animais por suspeita de febre amarela no Sudeste do país. O primeiro bugio, vindo de Nova Petrópolis, foi levado ao zoológico no dia 9 de janeiro.
“Ele tinha ferimento cortante na mão direita, e tinha no olho direito uma dilaceração muito grande. Felizmente, não atingiu o olho. Esses não são ferimentos de briga característica entre eles. Agora, o bugio está se recuperando bem. Ele é um adulto de idade avançada”, explica Cunha.
Famílias de Bugios ameaçadas pela febre amarela
e pela estupidez humana!

O segundo bugio era jovem e foi levado ao zoo, no dia 12, e era da mesma região do macho adulto. “Ele foi ferido com tiro de chumbinho, e não sobreviveu. Tinha quatro marcas de tiro. Ele passou pelos atendimentos e não aguentou, morrendo no mesmo dia que chegou”, afirma a bióloga Tatiane.

Se outros macacos machucados forem encontrados, é necessário acionar a Secretaria do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Sema) ou a Patrulha Ambiental. Mais uma vez, o veterinário lembra: “mesmo doente, o bugio não vai contaminar ninguém, ele é apenas um sinalizador da doença, por isso é importante localizá-lo”.
De acordo com a Fiscalização Ambiental de Nova Petrópolis, os bugios estão entre as espécies ameaçadas de extinção no Rio Grande do Sul devido à destruição de seu habitat natural, à caça e ao comércio clandestino. “Estes fatores agravam o estado de conservação desta espécie, que serve de sentinela para a febre amarela”, pontuou a fiscal ambiental, Cássia Hoffman.
Fonte: G1