terça-feira, 31 de maio de 2011

A vitória do Brasil que trabalha?

No dia 24 de maio foram assassinados os extrativistas e ambientalistas José Cláudio Ribeiro da Silva e sua esposa  Maria do Espírito Santo. Os dois viviam da colheita da castanha-do-pará, uma atividade de total preservação do meio ambiente. O casal denunciava as madereiras ilegais que extraíam madeira de lei das florestas sem nenhum tipo de licença. A morte dos dois já havia sido "anunciada" pelo próprio José Cláudio que repetidas vezes disse que sofria ameaças. A polícia do Pará se defendeu dizendo que o casal nunca procurou nenhum tipo de ajuda da polícia... A questão é: precisava?
Ora, essas duas pessoas defendiam uma prática sem nenhuma intenção de enriquecimento, mas de preservação de um bem comum a todos os brasileiros. trabalhavam todos os dias e não pretendiam nada que não fosse a própria sobrevivência e da floresta amazónica, com dignidade! É pedir demais? E é pedir demais que o poder público demonstre algum interesse por servidores e protetores do bem comum? Além do que, se nenhum dos dois demonstrou qualquer interesse em pedir ajuda policial, apesar de estarem evidentemente com medo das ameaças isso não denuncia algo sobre a credibilidade policial daquela região? Bem, já é fatro de que o Pará é uma terra sem lei, vamos lembrar que Dorothy Stang, a freira que defendia uma reforma agrária justa para os camponeses extrativistas, foi assassinada no dia 12 de Fevereiro de 2005 com vários tiros! Mais tarde foi apurado que sua Morte foi encomendado por fazendeiros tanto da agricultura quando da agropecuária, as mesmas duas categorias que agora se unem para a aprovação do novo código ambiental, que nada mais é do que outro crime ambiental institucionalizado! O que mais dói é ter de ouvir de certos ramos da imprensa que a vitória no congresso nacional do novo código ambiental foi "uma vitória do Brasil que trabalha...' E aqueles que morreram, não trabalhavam?
Com todo o respeito a os outros agricultores e pecuaristas que vivem da terra e não cometem crimes contra pessoas, devo dizer que se utilizar do pretexto de nutrição da população para levar a terra à exaustão é um ardil terrível! Ameaçar outros trabalhadores então... Nem se fala! Viver da terra é o direito de todos, bem como viver sobre ela e em paz!... Mas quando isso vai acontecer??

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Elegia Canina



(Para uma cocker spaniel inesquecível!...)


No dia 4 de junho de 2009
morreu uma encarnação da ternura
que atendia pelo nome de Julie,
vivia sobre quatro patas,
olhava com irremediável doçura
e nunca, nunca mesmo,
mostrou desafeto por quem quer que fosse!


Recebia a todos com gravetos de flores
latinhas de suco e até
com seu bem mais precioso:
Uma boneca de pano
com cabelos vermelhos
que oferecia à altura da mão
dos visitantes até que a pegassem.


Sobre aqueles que temia,
ou muito estranhava, apenas olhava
e sobriamente oferecia a pata direita
como quem formamalmente repetisse
um cumprimento social de
"Bom dia", sem baixar, nem diminuir
a candura daquele olhar!









Sempre esteve ao lado dos seus
em crises, doenças ou acessos de choro,
ali ficando até a melhora, e então dormia
como quem tivesse cumprido uma missão.
Não era meu animal de estimação
mas de uma tia, já falecida, que a tinha
como sua maior amiga e melhor companhia.


Ela morreu de modo indigno
- sacrificada - porque a humanidade se
incomoda quando seus bichinhos
adoecem e já não podem ser atração
na ponta de uma coleira.
Não me despedi, e confesso que na correria
que eu mesmo criei, a esqueci.


Com um tanto de remorso, saudade e culpa
escrevi o que já havia reconhecido:
Que toda a bondade que se sonha e idealiza
na humanidade ela já tinha.
Enquanto nós com nossos livros
tratados, religiões e sonhos
andamos apenas procurando ser...


Sem tratados ou religiões,
filosofias ou opiniões,
ela me ensinou a ser cordial
com os estranhos e mesmo
na desconfiança, a ser gentil.
Me ensinou a ser fiel sem cobrar um preço
e mesmo que sem dizer nada
passar a certeza de que se está ali!


Escrevi esse poema para que mais
pessoas saibam que ela esteve aqui
e para que se lembrem
de que tudo o que ela foi
é possível a nós, embora mais difícil,
pois carecemos de pureza,
já que a inteligência também
criou a ambição e a concorrência!


Por isso e pelo carinho,
pela recepção calorosa,
pelo toco de cauda abanando
depois de um longo dia de esforço,
pela boneca de pano entregue na mão,
pelo amor e a confiança
e pelo toque amoroso do olhar...


MUITO OBRIGADO POR TUDO JULIE!

De: Jaime E. Cannes