terça-feira, 19 de julho de 2011

Notícia: Leopardo ataca seis pessoas na aldeia de Prakash Naga, na Índia

Um leopardo foi capturado após atacar seis pessoas na Índia e mais uma vez o fato foi amplamente divulgado nessa terça feira dia 19/07. O que me chateia nessa notícia, exposta em vários sites e blogs de notícias, é de que mais uma vez aparecem como vítimas os verdadeiros responsáveis pelo ataque: os homens! A região é superpovoada, toda a zona florestal foi devastada e um único animal acuado tenta sair de uma nesga de floresta, depara-se com o medo e a reação violenta de moradores que se armaram de paus e pedras... Como quialquer animal selvagem amendrotado ele atacou!

 Uma notícia sensacionalista que guarda uma realidade triste com relação à preservação das florestas na Índia!

É claro que o medo do leopardo não justifica a morte de moradores (E ainda bem que ninguém morreu!), mas o inverso também vale! A foto divulgada à exaustão foi a hora em que o felino ataca um dos guardas florestais, um evidente momento de pânico geral. Finalmente o grande predador - ameaçado de extinção - foi capturado vivo!

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Elegia a uma pequena borboleta

Adoro este poema e quis compartilhar com vocês não só a sua beleza e sensibildidade tão bem expressas na poesia de Cecília, mas todo o respeito pela vida que ele contempla.

Elegia a uma pequena borboleta

Como chegavas do casulo,
— inacabada seda viva —
tuas antenas — fios soltos
da trama de que eras tecida,
e teus olhos, dois grãos da noite
de onde o teu mistério surgia,

como caíste sobre o mundo
inábil, na manhã tão clara,
sem mãe, sem guia, sem conselho,
e rolavas por uma escada
como papel, penugem, poeira,
com mais sonho e silêncio que asas, 
















 




minha mão tosca te agarrou
com uma dura, inocente culpa,
e é cinza de lua teu corpo,
meus dedos, sua sepultura.
Já desfeita e ainda palpitante,
expiras sem noção nenhuma.

Ó bordado do véu do dia,
transparente anêmona aérea!
não leves meu rosto contigo:
leva o pranto que te celebra,
no olho precário em que te acabas,
meu remorso ajoelhado leva!

Choro a tua forma violada,
miraculosa, alva, divina,
criatura de pólen, de aragem,
diáfana pétala da vida!
Choro ter pesado em teu corpo
que no estame não pesaria.

Choro esta humana insuficiência:
— a confusão dos nossos olhos
— o selvagem peso do gesto,
— cegueira — ignorância — remotos
instintos súbitos — violências
que o sonho e a graça prostram mortos

Pudesse a etéreos paraísos
ascender teu leve fantasma,
e meu coração penitente
ser a rosa desabrochada
para servir-te mel e aroma,
por toda a eternidade escrava!

E as lágrimas que por ti choro
fossem o orvalho desses campos,
— os espelhos que refletissem
— vôo e silêncio — os teus encantos,
com a ternura humilde e o remorso
dos meus desacertos humanos!


CECÍLIA MEIRELES - Do livro Retrato Natural, Rio de Janeiro 1967.