segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Um Milhão de Animais Mortos nas Estradas...

BR-101, norte do Espírito Santo, setembro de 2015. Um caminhoneiro sente um cheiro forte e localiza uma anta --o maior mamífero terrestre brasileiro-- na margem da pista, em estado avançado de decomposição.

Cinco meses antes, no mesmo trecho da rodovia, biólogos encontraram uma fêmea adulta de harpia, a maior ave de rapina das Américas, debilitada por fraturas e hematomas. Por ali, restos de retrovisor de caminhão. No mês anterior, a vítima fora uma onça-parda. As cenas com espécies ameaçadas de extinção são um retrato de um filme que não sai de cartaz no Brasil: a matança de animais por atropelamentos em estradas.


Essa é, de longe, a principal causa de morte de bichos silvestres no país, superando caça ilegal, desmatamento e poluição. São 15 animais mortos por segundo, ou 1,3 milhão por dia e até 475 milhões por ano, segundo projeção do CBEE (Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas), da Universidade Federal de Lavras (MG).

Quem puxa a lista são os pequenos vertebrados, como sapos, cobras e aves de menor porte --respondem por 90% do massacre, ou 430 milhões de bichos. O restante se divide em animais de médio porte (macacos, gambás), com 40 milhões, e de grande porte (como antas, lobos e onças), com 5 milhões.

A situação, dizem especialistas, é o resultado natural para um país que desconsiderou os bichos ao planejar as rodovias e ainda dá os primeiros passos na adoção de medidas para minimizar os impactos das vias.

Corrida Contra o Tempo

"Está acontecendo uma desgraça total e não temos tempo nem de estudar o que ocorre", disse à BBC Brasil Áureo Banhos, professor do departamento de biologia da Universidade Federal do Espírito Santo.

Banhos coordena um time que monitora os atropelamentos no trecho de 25 km da BR-101 que corta uma das manchas verdes mais intactas do país. É um mosaico de 500 km² (ou um terço da cidade de São Paulo) de unidades de conservação rasgado pela pista única da via.

Um exemplo do alerta do professor: das 70 espécies de morcegos identificadas na região, 47 já foram atropeladas na estrada - e uma delas era desconhecida da ciência até então. Ao todo, 165 espécies de diferentes animais perderam a vida por ali (10 anfíbios, 21 répteis, 63 aves e 71 mamíferos) - são 50 mortes por dia apenas nesse ramo da rodovia, ou 20 mil por ano.

Essa floresta integra as reservas de mata atlântica da Costa do Descobrimento, patrimônio natural da humanidade desde 1999. Por ser um raro fragmento contínuo de mata, é o último refúgio na região para várias espécies ameaçadas, como a anta, a onça-pintada, o tatu-canastra e a harpia.

O fotógrafo Leonardo Merçon, do Instituto Últimos Refúgios, fez um trabalho de registro da Reserva Biológica de Sooretama, a maior peça do mosaico verde da região. Impressionado pelos atropelamentos, acabou se engajando nas ações de conscientização para a gravidade do problema.

"Você nem precisa de dados para ver o impacto real do problema", afirma ele. Um vídeo do instituto que registrou uma onça-parda atropelada na estrada teve mais de 1 milhão de visualizações.

Em locais como esse, a perda de um único indivíduo pode ter impacto muito grande sobre a biodiversidade. "Engenheira" dos ecossistemas, por dispersar sementes e servir de presa para grandes predadores, a anta, por exemplo, leva 13 meses na gestação (com um filhote por vez) e demora dois anos entre as concepções. Um possível caminho para os animais cruzarem para o outro lado da via são os dutos de drenagem de água sob a pista, mas nem sempre é simples mudar os hábitos dos animais.

"No parque nacional Banff, no Canadá, os ursos demoraram oito anos para começar a usar esse tipo de passagem", afirma Alex Bager, coordenador do CBEE. No caso da BR-101, apenas 15% dos bichos atropelados usam as manilhas.

Ou seja, talvez seja mais fácil mudar os hábitos dos motoristas, por meio de ações como redução de velocidade, radares inteligentes que multam pela média de velocidade (e não em apenas um ponto) e placas de advertência.

A Eco-101, concessionária responsável pelo trecho da BR-101 em questão, diz que o segmento tem dois radares fixos, velocidade máxima de 60 km/h (especialistas defendem 25 km/h) e dez placas educativas. Afirma ainda promover ações de conscientização e que estuda a "ampliação dos dispositivos de segurança para os animais silvestres".

Ausência de Normas

A situação da BR-101 no Espírito Santo - que ainda enfrenta a perspectiva de duplicação até 2025 - é uma amostra aguda de um problema nacional. São mais de 15,5 mil km de estradas atravessando áreas de conservação.

Os pontos críticos estão por todo o Brasil. Um levantamento do Instituto de Pesquisas Ecológicas em três trechos de rodovias de Mato Grosso do Sul (1.161 km nas BRs 267, 262 e 163) entre abril de 2013 e março de 2014, por exemplo, localizou 1.124 carcaças de 25 espécies diferentes, como cachorro-do-mato (286 mortes), tamanduá-bandeira (136) e jaguatirica (7).

E não há normas nacionais específicas para a construção de rodovias que cortam reservas naturais. Tudo tramita como um licenciamento ambiental padrão. O problema vem mobilizando a classe acadêmica no país. Paralelamente a um boom nos estudos em ecologia de estradas, há articulações institucionais em curso no Congresso e em órgãos ambientais.

Um fruto recente desse debate é o PL (Projeto de Lei) 466/2015, do deputado federal Ricardo Izar (PSD-SP), que busca tornar obrigatórias ações como monitoramento e sinalização em áreas "quentes" de atropelamentos, além da criação de um cadastro nacional de acidentes com animais silvestres.

Sobre essa última medida, um esforço nesse sentido já partiu da própria academia, com a criação do Sistema Urubu, uma espécie de rede social para compartilhamento e validação de informações sobre atropelamentos de bichos.

No ar há um ano, a iniciativa do CBEE conta com um aplicativo gratuito pelo qual qualquer pessoa pode fotografar e enviar imagens de acidentes com animais. Os registros são enviados para uma base de dados central e são validados por especialistas cadastrados no sistema, tudo online.

Já são cerca de 15 mil usuários cadastrados e mais de 20 mil fotos enviadas. Para entrar no sistema, cada registro precisa ser validado por cinco especialistas, e ter o consenso de três deles sobre qual é a espécie em questão - são 800 "validadores" ativos na rede, cada um especializado numa classe animal.

"Muitas vezes, as pesquisas sobre o tema no Brasil são muito regionalizadas, restritas ao raio da universidade por falta de recursos. Com o sistema poderemos criar um mapa de áreas críticas de atropelamentos no país e usá-lo como política pública de conservação", afirma Alex Bager, do CBEE.

Diante da perspectiva da fase mais explosiva de construção de estradas na história, com pelo menos 25 milhões de km de novas rodovias no mundo até 2050, especialistas defendem que essas intervenções passem, cada vez mais, por estudos de custo-benefício.

Seria um modo de evitar a proliferação de vias em regiões de alto valor ambiental mas potencial agrícola apenas modesto, como a bacia Amazônica. "Construir estradas é abrir uma caixa de Pandora de problemas ambientais, e ainda estamos na pré-história da mitigação de impactos", afirma Banhos.
Fonte: G1 


quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Luz e Sombra na Defesa dos Animais


Definitivamente existem dois tipos de ambientalista neste mundo: Os que denunciam a violência contra os animais divulgando essa violência, segundo eles como uma forma de alertar as pessoas que vivem inconscientes dela de que ela ocorre todos os dias simplesmente para que se tenha nossa porção de carne e leite na geladeira do supermercado todos os dias à disposição! Por outro lado há aqueles que preferem inspirar a proteção animal e ambiental menos com indignação, e mais com conscientização. Segundo esses ambientalistas a divulgação da violência contra os animais só choca os mais sensíveis ao tema e talvez até instigue as pessoas que possuem esse tipo de perversão em estado latente. O que de fato é um risco bem factível!
Particularmente estou com o segundo grupo. Não acredito que purgar ódio contra aqueles que depredam a natureza e o meio ambiente fará o mundo um lugar melhor, nem a vida mais fácil! O movimento ambientalista deveria ser uma convergência de esforços para tornar a vida na Terra aceitável e boa para todos os seres vivos que nela habitam, e não uma loteria onde os mais fortes decidem sobre os mais fracos. O movimento ambientalista é, a meu ver, um movimento em prol da vida. Por esse motivo não poderia comportar nenhum tipo de rancor ou desprezo seja lá por quem quer que seja. Muitos dos empresários que poluem a terra e destroem florestas creem de todo coração que nosso planeta suporta mais um pouco de exploração predatória, e de que estão fazendo o melhor pelo progresso de suas nações, oferecendo emprego e trazendo o desenvolvimento econômico. Na verdade essas pessoas vivem uma profunda alienação sobre as verdadeiras condições ambientais, e tem por trás de si muita gente mal intencionada sim! Porém duvido muito que torná-los os "monstros" da vez ajude em alguma coisa. 
Esse modelo já foi utilizado demais, não concordam? Os nazistas culparam os judeus por seus problema econômicos, a sociedade inteira culpou os gays pela disseminação da AIDS no início dos anos 80, apelidando-a de "praga gay". Até quando nós teremos de odiar pessoas para nos mobilizarmos em nossas causas? Viver bem e melhor já não é motivação suficiente? Encarar as crises como uma demanda coletiva, e que deve ser encarada e combatida deste modo, não é uma proposta suficientemente forte  para que atuemos nessa direção? Dividir o mundo entre as pessoas boas e más deu origem a todo o tipo de incompreensão, perseguição e sofrimento. Precisamos entender que existem pessoas ignorantes e esclarecidas, individualistas e coletivas. As ignorantes devem ser instruídas, despertas. As individualistas devem ser alertadas para os benefícios que a partilha de interesses e esforços podem proporcionar à vida e a elas mesmas enquanto seres humanos.
Não creio que se mude a relação com o meio ambiente sem mudar a consciência das pessoas e a nossa própria consciência e modo de ver o mundo e as relações humanas.