Eu estava no ônibus indo para o trabalho quando de repente um inseto entra pela janela e pousa bem no meu peito! Levei um susto! Parecia um marimbondo e num gesto automático dei um toque com o dedo indicador e deixei-o no chão. Atordoado ele se debateu um pouco, mas logo em seguida se pôs a voar. No princípio pensei “Ele logo acha a janela para sair”. Mas com o tempo e com mais pessoas ou se esquivando ou dando-lhe petelecos que o tonteavam me ocorreu que o medo dos passageiros do coletivo era fruto da mesma confusão que eu fiz! Logo percebi que a sua vidinha corria risco. Não ia demorar para que o medo associado a indiferença dos seres humanos por vidas menores que as suas se transformasse num gesto violento e fatal. Comecei a imaginar como eu poderia fazer para ajudá-lo até que decidi que ia pegá-lo na mão e colocá-lo na janela. Vacilei um pouco no início pensando que ele ia ficar tonto e ser esmagado pela roda do veículo... Então fui sem demorar mais um minuto! Levantei-me e comecei a procurar. Perguntei para uma senhora se não tinha visto aquele inseto, que ela completou “O marimbondo?”, “É!”, concordei meio sem jeito. “Ah, ele voou pra lá, aí aquele menino esmagou ele!”. Levei um susto, mas só me restou mesmo só um “Ah!” sufocado e angustiado, nem olhei para o tal menino.
Quando ele entrou no ônibus havia pousado naquele que na verdade era sua única chance real de sair dali ainda vivo. Eu estava, porém, envolto na minha consciência humana, nos problemas ridículos que poderiam, com certeza, esperar mais um pouco. Isso me doeu de verdade! Minha indiferença inicial estimulada por meu medo. E minha acomodação em dizer para mim mesmo “Ele se vira”. A mesma comodidade que faz com alguém passe por um cachorro faminto ou doente, ou até uma pessoa, com o mesmo pensamento. Doeu-me saber que tenho dessa indiferença dentro de mim tanto quanto qualquer um que eu tenha questionado anteriormente! Não foi um gesto condizente com a época do ano que eu mais gosto, o Natal! A morte da pequena vida me fez jurar que daquele dia em diante eu redobraria minha atenção para ser mais atento à qualidade mais importante que um ser humano pode ter: a disposição para respeitar e preservar a vida em todas as suas manifestações!
Perdoe-me pequeno.
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