Cernunos, antigo deus pagão dos caçadores. |
Tenho falado inúmeras vezes sobre
a falta consciência dos modernos caçadores, mas sinto hoje que devo reparar um
estigma que acaba por afetar a memória de todos os caçadores da antiguidade que
foi totalmente subvertida! Os caçadores antigos eram preservacionistas! Escolhiam
suas caças e a quantidade de abates por cada estação e por espécies. Não matavam
filhotes, ou fêmeas prenhes, ou o macho dominante e líder de bando porque isso
desestabilizaria o grupo, e significava que muito provavelmente os outros machos
não estavam maduros para procriar. Ameaçando assim todo um ciclo de renovação
da espécie!
Pintura em uma caverna mostra a caçada como um rito de integração com a terra. |
Oravam às almas dos animais por proteção e misericórdia. Os viam
como irmãos mais poderosos, e depois de abatê-los oravam sobre seus corpos
pedindo que cedessem parte de sua força e de suas habilidades ao caçador. Essa crença
se baseava na ideia de que o caçador ajudava a alma do animal a encontrar seu
caminho no mundo espiritual, o que aliás era sua obrigação! Em troca receberia
os dons da sua presa. Por isso que nas culturas xamânicas existem os chamados animais
de poder, ou animal totem, que são representações das forças da natureza
expressas nas qualidades de cada animal. Daí também vem o hábito dos xamãs em usarem as peles
dos seus animais de poder, que eram na verdade seus guias no mundo espiritual, durante os rituais!
Sacerdote usando a pele do animal totem. |
Mas e hoje? O que vemos são jovens
geralmente ricos que fazem das caçadas um esporte elitizado em que os animais
abatidos são parte de um espetáculo bizarro. Meros componentes sacrificais de uma ânsia
primitiva por sangue. A consciência desses modernos caçadores em nada se parece
com a dos antigos caçadores, pois não há respeito, e nem mesmo qualquer
sentimento de integração! Alguns chegam a ser mesmo criminosos e subornam guardas
florestais de países subdesenvolvidos para matar animais de grande porte ou raros! A consciência
preservacionista dos antigos xamãs foi completamente esquecida. Os caçadores
modernos são homens, na sua maioria, que procuram extravasar sua agressividade
cada vez mais combatida no mundo moderno. O que também é um erro! Agressividade
não é igual à violência. É sim uma energia que pode fazer com que as coisas “aconteçam”.
O meio empreendedor e as artes marciais, por exemplo, podem ser um excelente
veículo para canalizar essa agressividade, que a ao ser reprimida, aí sim vira
violência! O caçador da atualidade é um criminoso, sem empatia com a dor dos
seres vivos que ele designa como inferiores a ele simplesmente porque ignora a
totalidade da vida. É basicamente um ignorante que se vê como um aristocrata,
já que este é também um “esporte” caro! São meros matadores dando vazão aos seus instintos assassinos e sociopatas reprimidos, isto sim.
A beleza e a força do animal eram integradas em ritos específicos! |
Os matadores modernos são os
descendentes dos antigos xamãs caçadores e deveriam honrar essa ancestralidade
caçando o convívio e não a vida, capturando imagens e experiências e não
troféus, para que possam trocá-las com os mais jovens. Ensinando-lhes sobre a existência em
comunhão com o planeta que nos sustenta, e o valor da vida selvagem. Esperamos todos
ansiosamente pela chegada do novo caçador xamã!