sexta-feira, 27 de junho de 2014

Caçadores


Cernunos, antigo deus pagão dos caçadores. 
Tenho falado inúmeras vezes sobre a falta consciência dos modernos caçadores, mas sinto hoje que devo reparar um estigma que acaba por afetar a memória de todos os caçadores da antiguidade que foi totalmente subvertida! Os caçadores antigos eram preservacionistas! Escolhiam suas caças e a quantidade de abates por cada estação e por espécies. Não matavam filhotes, ou fêmeas prenhes, ou o macho dominante e líder de bando porque isso desestabilizaria o grupo, e significava que muito provavelmente os outros machos não estavam maduros para procriar. Ameaçando assim todo um ciclo de renovação da espécie! 

Pintura em uma caverna mostra a caçada
como um rito de integração com a terra.

Oravam às almas dos animais por proteção e misericórdia. Os viam como irmãos mais poderosos, e depois de abatê-los oravam sobre seus corpos pedindo que cedessem parte de sua força e de suas habilidades ao caçador. Essa crença se baseava na ideia de que o caçador ajudava a alma do animal a encontrar seu caminho no mundo espiritual, o que aliás era sua obrigação! Em troca receberia os dons da sua presa. Por isso que nas culturas xamânicas existem os chamados animais de poder, ou animal totem, que são representações das forças da natureza expressas nas qualidades de cada animal. Daí também vem o hábito dos xamãs em usarem as peles dos seus animais de poder, que eram na verdade seus guias no mundo espiritual, durante os rituais!
Sacerdote usando a pele do animal totem.
Mas e hoje? O que vemos são jovens geralmente ricos que fazem das caçadas um esporte elitizado em que os animais abatidos são parte de um espetáculo bizarro. Meros componentes sacrificais de uma ânsia primitiva por sangue. A consciência desses modernos caçadores em nada se parece com a dos antigos caçadores, pois não há respeito, e nem mesmo qualquer sentimento de integração! Alguns chegam a ser mesmo criminosos e subornam guardas florestais de países subdesenvolvidos para matar animais de grande porte ou raros! A consciência preservacionista dos antigos xamãs foi completamente esquecida. Os caçadores modernos são homens, na sua maioria, que procuram extravasar sua agressividade cada vez mais combatida no mundo moderno. O que também é um erro! Agressividade não é igual à violência. É sim uma energia que pode fazer com que as coisas “aconteçam”. O meio empreendedor e as artes marciais, por exemplo, podem ser um excelente veículo para canalizar essa agressividade, que a ao ser reprimida, aí sim vira violência! O caçador da atualidade é um criminoso, sem empatia com a dor dos seres vivos que ele designa como inferiores a ele simplesmente porque ignora a totalidade da vida. É basicamente um ignorante que se vê como um aristocrata, já que este é também um “esporte” caro! São meros matadores dando vazão aos seus instintos assassinos e sociopatas reprimidos, isto sim.

A beleza e a força do animal
eram integradas em ritos específicos! 


Os matadores modernos são os descendentes dos antigos xamãs caçadores e deveriam honrar essa ancestralidade caçando o convívio e não a vida, capturando imagens e experiências e não troféus, para que possam trocá-las com os mais jovens. Ensinando-lhes sobre a existência em comunhão com o planeta que nos sustenta, e o valor da vida selvagem. Esperamos todos ansiosamente pela chegada do novo caçador xamã!

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